Entrevista ao treinador hispano-brasileiro Beto Bianchi, novo sócio da AITF
A Associação Ibero-americana de Técnicos de Futebol (AITF) orgulha-se de partilhar as histórias dos seus membros, cuja dedicação e profissionalismo contribuem para o desenvolvimento global do futebol. Hoje conversamos com Beto Bianchi, ex-jogador e treinador profissional, cuja carreira o levou a diferentes continentes. O seu percurso inclui destinos como Espanha, Bélgica, Indonésia, Jordânia, Angola, Kuwait, Uganda e Omã, onde atualmente trabalha como treinador do Saham Club, da primeira divisão do país.
AITF: Bom dia, Beto. É um prazer contar contigo. Para começar, poderias apresentar-te como treinador e partilhar connosco as tuas principais qualificações? Gostaríamos de conhecer os marcos mais importantes da tua trajetória e como moldaram a tua carreira no futebol internacional.
BB: “Sou Beto Bianchi, de nacionalidade hispano-brasileira, treinador com licenças UEFA PRO e CAF A. Desde 2005 que trabalho como treinador a nível profissional e, desde 2011, a minha carreira levou-me a orientar equipas fora de Espanha.
Entre as minhas conquistas mais importantes, destaco o meu trabalho à frente da seleção nacional de Angola, com a qual consegui a classificação para a fase final da CHAN, o torneio africano de seleções. Além disso, fui vice-campeão do campeonato de Angola durante três temporadas consecutivas e conquistei a Taça de Angola. Tive também o privilégio de participar nas duas competições africanas de clubes mais prestigiadas, trabalhando com equipas como o Petro de Luanda, o Interclube de Luanda e o Vipers do Uganda, o que foi uma experiência enriquecedora e fundamental na minha carreira.”
AITF: Trabalhaste em continentes distintos, desde a Europa até África e Ásia. Que fatores consideras ao tomar a decisão de treinar num novo país?
BB: “É verdade que trabalhei em vários continentes, em países como Indonésia, Bélgica, Jordânia, Angola, Kuwait, Uganda e Omã. Ao considerar uma oportunidade, o primeiro aspeto que valorizo é a segurança do país, já que me parece fundamental. Em segundo lugar, considero a seriedade do futebol nesse lugar e, finalmente, avalio se a liga e o clube têm um projeto orientado para o crescimento e desenvolvimento do futebol.”
AITF: ¿Cuáles son los principales desafíos que has encontrado al trabajar en diferentes contextos culturales y futbolísticos, y cómo los has superado?
BB: “Sem dúvida, o principal desafio é adaptar-se rapidamente à cultura do país para evitar conflitos culturais. É essencial lembrar que somos nós os recém-chegados e, portanto, temos de aceitar e respeitar os costumes locais, gostemos ou não. Outro desafio importante é entender como interagir com os jogadores, dependendo do seu país de origem. Não é o mesmo, por exemplo, exigir de um jogador europeu e de um jogador africano ou asiático. É preciso saber comunicar essa exigência de forma adequada; no final, exigimos o mesmo, mas de uma forma diferente. O que se pode dizer diretamente a um jogador europeu exige uma abordagem distinta com um jogador africano.
Além disso, estabelecer disciplina é um desafio significativo, pois, em muitos desses países, os jogadores não estão tão habituados, como na Europa, a aspetos básicos como a pontualidade, a nutrição, os horários de descanso e, sobretudo, a disciplina tática, que costuma ser uma das áreas em que é mais necessário trabalhar.”
AITF: Que aprendizagens obtiveste da tua experiência em países como Angola, Jordânia e Uganda?
BB: “A verdade é que, embora o futebol nesses países não esteja tão desenvolvido como na Europa ou na América do Sul, esta experiência é muito valiosa para crescer como treinador. Enfrentas situações que nenhum treinador sem experiência nesses locais saberia como resolver. O dia a dia fortalece-te, e tens de encontrar soluções constantemente para situações que em ligas desenvolvidas não se apresentam. Isto obriga-te a desenvolver muitos recursos como treinador.
Talvez um treinador da elite mundial, ao treinar num país assim, não soubesse resolver certas dificuldades porque nunca as viveu, o que poderia impedir-lhe de alcançar o rendimento necessário para a sua equipa. Existe a ideia equivocada de que treinar nesses locais é simples para quem vem de ligas mais fortes, mas é um grande erro. Primeiro, a pressão por ser estrangeiro é enorme, e segundo, os recursos e, muitas vezes, o nível dos jogadores não são os mesmos. Isso exige uma grande criatividade para encontrar soluções e obter o máximo rendimento da equipa.”
AITF: De que forma a diversidade de experiências internacionais te permitiu crescer como treinador?
BB: “Posso dizer com certeza que não sou o mesmo treinador que era antes de trabalhar em diferentes países. Esta experiência transformou-me, não só como treinador, mas também como pessoa. Cada país, cada cultura e cada estilo de jogador ensinaram-me algo novo. Os jogadores em cada país têm um estilo muito particular, com pontos fortes e áreas a melhorar. Aprendemos com os aspetos positivos e, com o tempo, sabemos como corrigir as áreas menos fortes, porque já vivemos situações semelhantes. Por exemplo, notei que, em alguns países, a linha defensiva é a mais propensa a cometer erros; noutros, há falta de médios ofensivos ou de avançados com boa finalização. Estes problemas estão ligados à cultura futebolística ou à falta de uma base sólida, e conhecê-los permite trabalhar de forma mais eficaz.”
AITF: Do teu ponto de vista, como pode a AITF facilitar a integração de treinadores em países com culturas futebolísticas muito diferentes?
BB: “Considero que a AITF poderia apoiar os treinadores através de palestras e cursos que ofereçam informação sobre o futebol nesses países. Muitas vezes, os treinadores chegam a um local sem conhecer nada da sua cultura futebolística, o que gera muitos problemas até conseguirem adaptar-se. Sabemos que, no futebol, o tempo para se adaptar e obter resultados é muito curto, e qualquer preparação adicional faz uma grande diferença.”
AITF: Como consideras que a AITF poderia ajudar a potenciar a colaboração entre treinadores internacionais?
BB: “Na minha opinião, seria muito benéfico que a AITF conseguisse contar com uma ampla rede de associados de diferentes países e culturas futebolísticas, que partilhem as suas experiências. Estabelecer contactos com outras ligas, organizando algo semelhante ao que ‘La Liga’ faz com os seus campus em diferentes países, poderia ser muito útil. Isto permitiria aos treinadores conhecer outras culturas do futebol e estabelecer relações com clubes e academias.“
A AITF trabalha para criar ligações entre treinadores de todo o mundo, oferecendo oportunidades de crescimento e desenvolvimento em mercados internacionais. Se és treinador e desejas melhorar a tua carreira ou partilhar as tuas experiências, convidamos-te a juntar-te à nossa comunidade. Torna-te membro da AITF e faz parte de uma rede global que apoia e potencia o talento dos técnicos de futebol!
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