Entrevista ao Santi Redondo, promotor da AITF
Na Associação Ibero-americana de Técnicos de Futebol (AITF), orgulhamo-nos de partilhar as histórias dos nossos membros, que, com dedicação e esforço, levaram o futebol a diferentes partes do mundo. Hoje falamos com Santi Redondo, ex-jogador profissional e treinador de futebol que, com a Licença UEFA Pro e uma sólida trajetória em Espanha, regressa da sua experiência no estrangeiro, mais concretamente em Arizona, Estados Unidos. Ele conta-nos sobre a sua carreira, as diferenças no futebol entre países e como a AITF pode apoiar os treinadores no seu desenvolvimento internacional.
AITF: Conta-nos um pouco sobre a tua trajetória, qualificação (certificados, licenças) e como chegaste a ser treinador no Arizona, EUA.
SR: “Tenho a certificação de Treinador Nacional Nível 3 e a Licença UEFA Pro. A minha carreira como jogador começou na formação do Rayo Vallecano, onde estreei aos 17 anos na primeira equipa, jogando na Segunda Divisão A. Depois fui para o Real Madrid CF, onde joguei durante quatro anos com o Castilla e a equipa principal, coincidindo com a famosa “Quinta del Buitre”. Mais tarde joguei no Real Murcia CF, até que uma lesão na anca me obrigou a retirar-me aos 26 anos. Antes de pendurar as botas, também joguei em clubes como o Ávila, o Fuenlabrada e o Alcalá.
Em relação à minha carreira como treinador, obtive o Nível 1, depois o Nível 2 e finalmente o Nível 3 em 2017. Trabalhei na formação do Rayo Vallecano, em equipas como o Seseña e o Benavente, e também fui diretor desportivo e coordenador. Além disso, co-fundei a escola de futebol Mar Abierto, um projeto focado na inclusão. O salto para os Estados Unidos aconteceu graças a uma empresa desportiva americana que me contactou através do LinkedIn, e acabei por trabalhar no Arizona, onde treinei futebol e basquetebol. No entanto, surgiram problemas relacionados com as instalações e a organização, o que me levou a regressar ao Benavente.”
AITF: Que diferenças observas entre o futebol nos Estados Unidos e noutros países onde trabalhaste ou colaboraste?
SR: “O futebol nos Estados Unidos, especialmente a nível de formação e antes do ambiente universitário, está bastante desorganizado. Até aos 14 anos, há uma desorganização considerável no que toca a categorias e competições. Muitos clubes europeus aproveitam essa falta de estrutura para estabelecer as suas academias, mas ainda existe pouca coerência organizativa. Acredito que os Estados Unidos precisam de uma melhoria significativa neste aspeto, e a escola de futebol espanhola poderia ser um bom modelo a seguir. A metodologia espanhola, com o seu foco no microciclo estruturado, é aplicada com sucesso há 20-25 anos e seria fundamental para potenciar o futebol juvenil lá.”
AITF: O que te motivou a trabalhar como treinador no estrangeiro?
SR: “Principalmente, a oferta económica foi um fator decisivo, além de que os Estados Unidos são um destino atrativo para muitos profissionais. Foi também uma oportunidade para melhorar as minhas competências e adaptar-me a novas culturas, o que é enriquecedor. No entanto, a nível organizativo, o futebol nos Estados Unidos está bastante atrasado em relação a Espanha, o que me surpreendeu. A metodologia que aplicamos em Espanha precisa de ser implementada de forma sistemática e a longo prazo naquele país para realmente funcionar.”
AITF: Como é que a tua experiência nos Estados Unidos influenciou o teu enfoque e estilo de treino?
SR: “Sinceramente, não mudou o meu enfoque, pelo contrário, reforçou-o. A minha experiência nos Estados Unidos reafirmou os meus princípios e a minha metodologia de treino. Acredito que o que falta lá são treinadores bem formados que possam servir de referência e guiar um desenvolvimento sólido do futebol, tanto a nível académico como desportivo.”
AITF: Que oportunidades achas que a AITF pode oferecer aos treinadores que queiram experimentar sorte em países como os Estados Unidos?
SR: “A AITF pode ser um veículo chave para que os treinadores espanhóis e de outros países acedam a oportunidades internacionais. Estamos capacitados para desenvolver projetos importantes em qualquer lugar do mundo, e num país como os Estados Unidos, onde o futebol ainda está em crescimento, os treinadores com experiência e metodologia comprovada podem fazer uma grande diferença.”
AITF: Que importância atribuis à mobilidade internacional dos treinadores em termos de desenvolvimento profissional e pessoal?
SR: “A mobilidade internacional é crucial tanto para o desenvolvimento pessoal como profissional. Permite-te melhorar os teus métodos de ensino e treino, ao mesmo tempo que contribuis para melhorar o ambiente em que trabalhas. É uma grande satisfação ver como o teu trabalho influencia o crescimento de outras pessoas, e isso é algo que te preenche tanto a nível profissional como humano.”
AITF: Como pode a AITF ajudar os treinadores a entenderem melhor as diferenças de mercado em cada país?
SR: “É fundamental que os treinadores que decidam trabalhar no estrangeiro tenham acesso a informação chave sobre as condições laborais, como o alojamento, os requisitos para obter uma carta de condução, a educação e os impostos. Muitas vezes, encontras surpresas ao chegar a um país, como me aconteceu nos Estados Unidos. Disseram-me que o seguro de saúde estava coberto, mas no final tive que tratá-lo por minha conta. O mesmo aconteceu com a carta de condução, que não era válida. Além disso, é essencial conhecer o custo de vida, que em alguns países, como nos Estados Unidos, é quase o dobro de Espanha. A AITF, através da experiência dos seus membros e do aconselhamento jurídico, pode proporcionar essa tranquilidade e segurança para que os treinadores se concentrem no seu trabalho sem distrações.”
AITF: Que papel deve a AITF desempenhar na criação de redes de apoio entre treinadores internacionais?
SR: “Acredito que é muito importante que os treinadores com experiência internacional coloquem as suas vivências à disposição dos outros. Partilhar as experiências vividas é uma excelente forma de apoiar e guiar os técnicos que estão a começar ou que querem dar o salto para trabalhar noutros países. A AITF deve promover estas redes de apoio, porque a experiência de cada um pode ser inestimável para os outros.”
AITF: Muito obrigado, Santiago, pelo teu tempo e atenção. Esperamos que a AITF se torne uma referência para todos os técnicos de futebol ibero-americanos que tenham ou procurem ter uma experiência no estrangeiro.
SR: “Obrigado a vocês.”
A AITF trabalha para criar conexões entre treinadores de todo o mundo, oferecendo oportunidades de crescimento e desenvolvimento em mercados internacionais. Se és treinador e desejas melhorar a tua carreira ou partilhar as tuas experiências, convidamos-te a juntares-te à nossa comunidade. Faz-te membro da AITF e faz parte de uma rede global que apoia e potencia o talento dos técnicos de futebol!
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