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Entrevista ao Marcos Marín, treinador espanhol UEFA Pro e Vice-Presidente da AITF

A Associação Ibero-americana de Técnicos de Futebol (AITF) orgulha-se de partilhar as experiências e conquistas dos seus membros, que, com esforço e dedicação, deixam a sua marca no futebol a nível global. Hoje conversamos com Marcos Marín, treinador espanhol com licença UEFA PRO e atual Vice-Presidente da AITF. Com uma carreira marcada pela internacionalização, levou o seu conhecimento a países tão diversos como China, Taiwan, Emirados Árabes Unidos e Kuwait, enfrentando com sucesso os desafios de adaptação a diferentes filosofias e culturas futebolísticas.


AITF: Bom dia, Marcos. Poderias fazer uma breve apresentação da tua carreira e formação como treinador?

MM: “Formei-me na Real Federação Espanhola de Futebol enquanto cursava Ciências da Atividade Física e do Desporto na Universidade Camilo José Cela. Esta formação permitiu-me conciliar os meus estudos universitários com o curso de treinador. Iniciei as minhas práticas no CF Rayo Majadahonda, enquanto continuava a licenciatura.”

AITF: ⁠O que te motivou a trabalhar fora de Espanha e como foi a tua experiência ao adaptares-te a culturas futebolísticas tão diferentes como as do Kuwait, Emirados Árabes Unidos e China?

MM: “Ao terminar a licenciatura e os três níveis de treinador nacional, deparei-me com um mercado de trabalho estagnado. Tive de conciliar várias atividades e equipas, fazendo malabarismos para conseguir viver da minha profissão. Foi então que surgiu uma oportunidade com a Nike, que liderava um projeto inovador em Xangai com um grande investimento nas escolas, onde o futebol era uma disciplina obrigatória. Esta experiência foi um grande desafio e proporcionou-me um crescimento pessoal e profissional, ao enriquecer-me com uma cultura tão diferente e ao perceber que o futebol oferece oportunidades quando se sai da zona de conforto. Esta etapa, que durou um ano e meio, permitiu-me fazer um bom networking, levando-me a outros projetos em cidades da China, como Hangzhou e Chengdu, e também em Taiwan.

Após dois anos, regressei a Espanha e encontrei o mesmo cenário laboral. Através de um colega que conheci na China, surgiu a oportunidade de me juntar a um novo projeto da LaLiga no Dubai e em Abu Dhabi. Foi outro período de dois anos de grande crescimento, liderando um projeto de alto rendimento a nível académico e desportivo. Mais tarde, apareceu uma oportunidade no Kuwait, num clube prestigiado, o Al Qadsia, onde liderei a equipa B e assisti a equipa principal em análise e preparação física. Infelizmente, esta etapa foi curta devido à alta exigência de resultados no futebol profissional.”

AITF: ⁠Quais são as principais diferenças que encontras entre a metodologia de trabalho na Ásia e em outros continentes?

MM“Na Ásia, o futebol foca-se muito na repetição e na mecanização de movimentos, com pouca ênfase no aspeto técnico-tático. Em competições como os Jogos Olímpicos, a China destaca-se pela sua capacidade de sistematizar movimentos, mas o futebol exige uma tomada de decisões constante, algo que em Espanha se trabalha desde tenra idade. Além disso, o contexto cultural e educacional, aliado à alta exigência escolar na China, dificulta a transição para um futebol mais compreensivo e integrado.”

AITF: Como achas que a mobilidade internacional influenciou o teu desenvolvimento como treinador?

MM: “Sair da zona de conforto e adaptar-se a diferentes culturas e formas de entender o futebol é uma experiência que nos faz crescer. Aprender a conviver e a trabalhar em contextos distintos obriga-nos a ser mais criativos e flexíveis, melhorando tanto a nível pessoal como profissional.”

AITF: Que desafios enfrentaste ao gerir equipas em ligas de países tão distintos?

MM: “Enfrentas desafios de todos os tipos, como as barreiras linguísticas e as diferenças na forma de comunicação. Por exemplo, na China, trabalhar com tradutores implica que o que expressas pode ser transmitido de forma diferente, já que também conta a comunicação não verbal. Além disso, lá existem hierarquias e o discurso é mais indireto e circular. Enquanto nós somos mais diretos, eles tendem a utilizar uma expressão menos clara e demoram mais a transmitir a mensagem.

No contexto árabe, enfrentámos desafios culturais, especialmente com alguns jogadores que não apresentam o mesmo nível de esforço diário, algo que é inegociável no desporto. São desafios que se devem gerir e enfrentar, mantendo-se sempre fiel aos teus princípios e à tua metodologia de treino. No final, tens de convencer o jogador duas vezes: pelas diferenças culturais e porque o teu método de trabalho é muito diferente do que eles estão habituados.”

AITF:  ⁠Na tua opinião, como poderia a AITF ajudar os treinadores que procuram oportunidades no estrangeiro?

MM: “A AITF oferece um apoio fundamental aos treinadores, ajudando a resolver questões logísticas e contratuais, como alojamento, contratos de trabalho, voos e escolarização, além de prestar assessoria jurídica. Isto permite ao treinador focar-se na sua atividade desportiva, reduzindo o stress associado às mudanças pessoais e profissionais.”

AITF: Como consideras que a AITF poderia ajudar a potenciar a colaboração entre treinadores internacionais?

MM: “As experiências internacionais ensinam-nos a adaptar-nos a diferentes contextos e filosofias de clube, melhorando a nossa capacidade de gestão de grupos multiculturais. Quanto mais experiência temos com jogadores de diferentes países, mais fácil é conquistar a sua confiança e convencê-los da nossa metodologia. A AITF trabalha para conectar treinadores de todo o mundo, criando oportunidades de crescimento em mercados internacionais.”


A AITF trabalha para criar ligações entre treinadores de todo o mundo, oferecendo oportunidades de crescimento e desenvolvimento em mercados internacionais. Se és treinador e desejas melhorar a tua carreira ou partilhar as tuas experiências, convidamos-te a juntar-te à nossa comunidade. Torna-te membro da AITF e faz parte de uma rede global que apoia e potencia o talento dos técnicos de futebol!

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