Entrevista ao José Campos, promotor da AITF
Na Associação Ibero-americana de Técnicos de Futebol (AITF), temos orgulho em compartilhar as histórias de nossos membros, que com sua dedicação e esforço levaram o futebol a diferentes partes do mundo. Hoje, conversamos com José Campos, dirigente e treinador de futebol com vasta experiência internacional, tendo trabalhado na Inglaterra, China, Nigéria e Estados Unidos. Ele compartilha conosco sua trajetória profissional, as particularidades do futebol em diversos países e como a AITF pode apoiar os treinadores no crescimento a nível internacional.
AITF: Conta-nos um pouco sobre ti, sobre a tua experiência e as tuas licenças/certificações.
JC: “Nasci e cresci em Sevilha, Espanha, e aos 23 anos decidi mudar-me para Inglaterra. Desde os 25 anos, resido nos Estados Unidos, embora tenha tido experiências de trabalho intermédias na Nigéria e na China. Licenciei-me em Relações Públicas e Publicidade e comecei a minha carreira no futebol na área administrativa, mas gradualmente fui-me orientando para a área técnica. Tenho um mestrado em Administração de Empresas Desportivas e um MBA em Gestão Desportiva, obtido na Universidade de Oregon, berço da multinacional Nike. Quanto à formação técnica, tenho a Licença UEFA B e a Licença C da Federação de Futebol dos Estados Unidos. Além disso, completei um curso de scouting e direção desportiva no CEDIFA e o FA Talent ID Level 1, juntamente com vários outros cursos em big data e scouting.
A minha trajetória profissional decorreu, na sua maioria, nos Estados Unidos, onde comecei num clube em Boston. Posteriormente, mudei-me para Oregon, onde fui Diretor de Competições na federação, além de treinar equipas universitárias e gerir a pré-academia dos Portland Timbers e Thorns. Depois, mudei-me para Nova Iorque para trabalhar na direção desportiva da Capelli Sport, uma marca de roupa com vários clubes profissionais na Europa. Desde o início de 2024, sou Diretor de Recrutamento na Academia do Orlando City SC.”
AITF: Como resumirias a tua carreira e experiência como técnico em diferentes países e ligas?
JC: “A minha carreira tem sido bastante variada e dinâmica, trabalhando em países como Espanha, Inglaterra, China, Nigéria e vários estados dos Estados Unidos. Desempenhei cargos tanto na área administrativa como técnica e na direção desportiva, trabalhando por vezes com a equipa principal e outras vezes nas categorias de formação. Tal como um jogador rende mais num sistema que se adapta ao seu perfil, acredito que os técnicos também devem procurar uma cultura, liga, cidade e clube que nos permitam alcançar o nosso máximo potencial. Para mim, nos primeiros anos de carreira, era importante viajar, conhecer diferentes culturas futebolísticas e desempenhar diferentes funções, até chegar ao ponto em que agora sei como quero direcionar a minha vida profissional.”
AITF: Trabalhaste na MLS, em Inglaterra, Nigéria e China. Como foi adaptar-te a ambientes tão diversos como técnico de futebol ou como colaborador de clubes na área de negócios?
JC: “Adaptar-me a diferentes ambientes foi, em geral, bastante tranquilo. Acredito que a minha maior força é a adaptabilidade. No entanto, cada país apresenta os seus desafios: na Nigéria, a segurança é uma preocupação constante; na China, as aplicações do Google e redes sociais não estão disponíveis; em Inglaterra, o estilo de futebol é muito direto; e nos Estados Unidos predomina uma abordagem física. O maior erro que podemos cometer é tentar comparar o nosso país de origem com o novo local de trabalho. É importante aproveitar o que cada lugar tem para oferecer, em vez de focar no que ficou para trás.”
AITF: O que te motivou a trabalhar fora de Espanha e como lidas com os desafios culturais e desportivos de cada país?
JC: “A minha motivação para sair de Espanha foi uma combinação de fatores. Licenciei-me em 2010, em plena crise económica, com uma taxa de desemprego geral de 25% e 50% de desemprego jovem. As oportunidades na minha cidade eram escassas e sempre tive o desejo de aprender inglês e explorar o mundo. Desde então, já estou há 15 anos a viver fora e estou muito satisfeito com a minha decisão.
Os desafios desportivos costumam ser mais fáceis de enfrentar do que os culturais. Por exemplo, na Nigéria, os jogadores são muito físicos, mas carecem de desenvolvimento tático; na China, os jogadores são técnicos, mas possuem limitações físicas; nos Estados Unidos, destacam-se fisicamente, mas falta-lhes técnica; e em Espanha, somos taticamente superiores, mas fisicamente menos competitivos. Cada cultura futebolística apresenta oportunidades e desafios únicos.”
AITF: Como achas que a mobilidade entre ligas tão diferentes como a MLS, a Premier League ou a Superliga Chinesa enriqueceu a tua abordagem profissional?
JC: “A experiência em diversas ligas tornou-me mais adaptável e, sem dúvida, enriqueceu a minha abordagem profissional. Hoje em dia, se precisasse de contratar alguém para o meu clube, consideraria primeiro os candidatos locais, mas se tivesse de escolher alguém do estrangeiro, preferiria alguém com experiência em vários países. Ter experiência internacional reduz o risco de que o candidato não se adapte à nova cultura.”
AITF: Que papel achas que a AITF pode desempenhar para ajudar outros treinadores ou scouts a aceder a mercados internacionais?
JC: “A AITF pode desempenhar um papel fundamental em ajudar treinadores e scouts que desejam trabalhar no estrangeiro. Existem muitas incertezas em questões legais, fiscais, salariais e culturais que a AITF pode ajudar a esclarecer, oferecendo orientação e apoio em áreas fundamentais.”
AITF: Quais foram os maiores desafios que enfrentaste ao trabalhar em países com sistemas futebolísticos tão variados?
JC: “No início da minha carreira, quando saí de Espanha em 2010, tinha uma visão muito enraizada no estilo de jogo do Tiki-Taka, acreditando que, se não houvesse 70% de posse de bola, não se jogava bom futebol. Rapidamente tive que me adaptar a estilos mais adequados aos perfis dos jogadores de cada país, sem tentar impor o meu estilo a qualquer custo.
Além disso, os sistemas futebolísticos são muito diferentes. Em Inglaterra, o sistema é mais parecido com o espanhol, mas nos Estados Unidos há uma rede complexa de ligas e federações, o que torna o scouting muito mais difícil, pois o talento está disperso.”
AITF: ¿Qué tipo de apoyo consideras esencial para que la AITF pueda brindar a técnicos de fútbol que están comenzando su carrera internacional?
JC: “O apoio mais importante inclui orientação jurídica sobre vistos, autorizações de trabalho e questões fiscais. Por exemplo, nos Estados Unidos, é necessário ter um Green Card ou um visto específico para trabalhar, assim como um número de segurança social. A nível profissional, a AITF pode proporcionar oportunidades de networking e ofertas de emprego e, a nível salarial e cultural, pode oferecer informações-chave sobre as diferenças entre os países, o que seria muito útil para treinadores que estão a iniciar a sua carreira internacional.”
A AITF trabalha para criar ligações entre treinadores de todo o mundo, oferecendo oportunidades de crescimento e desenvolvimento em mercados internacionais. Se és treinador e desejas melhorar a tua carreira ou partilhar as tuas experiências, convidamos-te a juntar-te à nossa comunidade. Torna-te membro da AITF e faz parte de uma rede global que apoia e potencia o talento dos técnicos de futebol!
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