Entrevista ao Miguel Ángel Pozanco, treinador espanhol UEFA Pro e Presidente da AITF
AITF: Miguel Ángel, fala-nos, por favor, sobre a tua trajetória e como chegaste a ser selecionador nacional feminino da Guiné Equatorial.
MAP: “Os meus primeiros passos no futebol de formação foram na A.D. Orcasitas. O bom trabalho realizado nas diferentes categorias (infantis e cadetes) despertou o interesse do Vallecas C.F., que me contratou para treinar a equipa amadora. Com esta equipa, consegui a promoção de divisão e, três épocas depois, juntei-me ao Rayo Vallecano como treinador do Juvenil B de Liga Nacional. Cumpri o objetivo de promover oito jogadores para o Juvenil A da Divisão de Honra. Durante esse período, a RFFM (Real Federação de Futebol de Madrid) contactou-me para coordenar as jornadas de aperfeiçoamento realizadas todas as quartas-feiras, além de liderar o trabalho dos guarda-redes em todas as categorias das diferentes seleções. Também fui responsável por coordenar os treinos das seleções, conquistando campeonatos de Espanha durante vários anos consecutivos. Foi então que recebi a proposta para treinar a seleção absoluta feminina da Guiné Equatorial.”
AITF: Que desafios encontraste ao trabalhar como selecionador nacional fora da Europa?
MAP: “Os desafios foram definidos por mim mesmo. Numa reunião com o presidente da Federação da Guiné Equatorial, pediram-me um projeto ambicioso para promover o futebol no país. Ao apresentar a minha proposta, assumi os compromissos e os desafios que isso implicava.”
AITF: Como a mobilidade internacional te impactou a nível pessoal e profissional?
MAP: “Era a primeira vez que eu viajava para o estrangeiro por um período tão longo, dois anos. Antes disso, já tinha estado no exterior, mas sempre por períodos mais curtos e com menos responsabilidade. O desconhecimento dos costumes locais, a pouca informação que consegui encontrar nos diferentes meios e a incerteza sobre o que poderia acontecer a nível pessoal causaram-me alguma preocupação. No entanto, no âmbito profissional, estava tranquilo, pois sabia ao que me tinha comprometido e estava certo de que, com a minha equipa técnica e esforço, poderia alcançar os objetivos. A minha única dúvida era sobre o nível de futebol que encontraria ali. Felizmente, deparei-me com um excelente nível graças ao trabalho e à colaboração do meu antecessor, Esteban Becker.”
AITF: Que aspetos destacarias no desenvolvimento do futebol feminino em África e como a AITF pode ajudar a dar visibilidade a estas experiências?
MAP: “Gostaria de destacar a enorme paixão pelo futebol nos países que tive a oportunidade de visitar. É impressionante; em muitos deles há um potencial enorme, verdadeiros diamantes por lapidar. Acredito que a AITF, com a sua proposta de formação, poderia ser amplamente aceite em vários países, desde que estejam verdadeiramente interessados na promoção e desenvolvimento do futebol.”
AITF: Que aprendizagens principais retiraste da tua experiência na Guiné Equatorial que poderiam ser úteis para outros treinadores da AITF?
MAP: “Dizem que aprendemos com as más experiências, e no meu caso não foi diferente. O maior aprendizado foi compreender que, antes de aceitar trabalhar no estrangeiro, é fundamental estar devidamente informado sobre todos os aspetos relacionados com a estadia e a legalidade em termos laborais e financeiros. A AITF, com as suas fichas informativas sobre diferentes países, oferece uma ferramenta inestimável para trabalhar com garantias e apoio. Gostaria de ter tido acesso a essa informação antes de aceitar o trabalho na Guiné Equatorial.”
AITF: Poderia contar-nos como terminou a sua etapa como selecionador de Guiné Equatorial e que aprendizagens retirou dessa experiência, sabendo que não foi um processo fácil?
MAP: “A verdade é que foi um processo longo e complicado, que se prolongou por cerca de sete anos. Durante esse tempo, lutámos para reclamar as indemnizações que me correspondiam após um despedimento sem justa causa por parte da FEGUIFUT, o que foi um período muito angustiante. Apresentei múltiplas reclamações junto dos órgãos de decisão da FIFA e recorri ao TAS, sempre à procura de justiça. Foi uma experiência difícil, mas que me ensinou muito. Vi como outros treinadores poderiam estar a passar por situações semelhantes, e foi então que decidi lançar a ideia de criar uma associação que ajudasse a evitar este tipo de problemas. A AITF agora oferece informações úteis, testemunhos, experiências, e serviços de assessoria e orientação aos treinadores. Felizmente, o meu caso terminou bem, mas sei que nem todos tiveram a mesma sorte. Trabalhar no estrangeiro, especialmente em destinos pouco conhecidos, pode ser uma experiência apaixonante, mas também apresenta muitos desafios, particularmente no que diz respeito aos trâmites legais, fiscais e de mobilidade.”
AITF: O que a AITF pode oferecer aos treinadores que desejam explorar oportunidades em seleções nacionais estrangeiras?
MAP: “Os objetivos da AITF são essenciais para que qualquer treinador, independentemente da categoria em que trabalhe, esteja bem informado e apoiado ao deslocar-se para qualquer destino com todas as garantias necessárias.
AITF: Como a AITF pode facilitar a transição de técnicos que passam de trabalhar em clubes para seleções nacionais?
MAP: “A transição de treinar uma equipa de clube para uma seleção nacional é um passo importante e apresenta muitas diferenças. Numa seleção, os períodos de trabalho com os jogadores são mais curtos, o que exige um planeamento mais estratégico e organizado. Além disso, a preparação deve estar alinhada aos calendários internacionais, o que representa um desafio adicional. A AITF pode ser uma grande aliada nesta transição, fornecendo apoio não só nos aspetos técnicos e táticos, mas também em questões contratuais e burocráticas. Este suporte é essencial para garantir uma experiência positiva em diferentes contextos profissionais.”
AITF: Que tipo de apoio ou recursos te teria sido útil ter na tua experiência internacional e como a AITF poderia colmatar essas necessidades?
MAP: “Como mencionei anteriormente, a informação incluída nas fichas que a AITF oferece sobre diferentes países teria sido uma grande ajuda durante a minha experiência na Guiné Equatorial. Creio que não há outra entidade que proporcione tantas possibilidades de apoio e respaldo para os treinadores que desejam experimentar novas oportunidades no estrangeiro. O trabalho da AITF é único e fundamental para garantir que os técnicos possam desenvolver-se profissionalmente num ambiente seguro e bem informado.”
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