Entrevista ao Quimey Almada, treinador argentino CONMEBOL Pro e Vogal da Direção da AITF
AITF: Olá Quimey, é um prazer contar contigo nesta entrevista para o site da AITF. Para começar, podes partilhar um resumo sobre a tua formação como treinador e o teu percurso profissional?
QA: “No que diz respeito à minha formação profissional, sou Professor de Educação Física, licenciado em Política e Gestão Institucional e treinador de futebol PRO pela CONMEBOL. A minha trajetória no futebol começou na escola de futebol “Malvinas” do Newell’s Old Boys de Rosario, onde iniciei o meu trabalho na formação de jovens. Ao longo dos anos, especializei-me em categorias inferiores, trabalhando em várias divisões.
No início de 2021, integrei a equipa técnica de Juan Manuel ‘Chocho’ Llop, que me deu a oportunidade de trabalhar no Platense, recém-promovido à Primeira Divisão. Esta experiência na elite foi extremamente enriquecedora. Em 2022, assumi a direção técnica do Deportivo Santo Domingo. No segundo ano no clube, o ‘Chocho’ decidiu abraçar um novo desafio, formando uma equipa técnica renovada, da qual fiz parte como adjunto até ao final de 2024.
Atualmente, encontro-me na Argentina, a viver uma nova etapa no futebol, desempenhando funções como preparador físico no Sporting de Bigand, o que me permite explorar uma nova perspetiva nesta apaixonante modalidade.”
AITF: A tua experiência como treinador na Argentina e no Equador permitiu-te trabalhar em contextos futebolísticos distintos. Que aprendizagens retiraste dessas vivências e como moldaram a tua filosofia como treinador?
QA: “Acredito que o sucesso está em compreender profundamente os contextos em que trabalhamos. Cada ambiente – seja um país, cidade, clube ou instituição – tem características únicas que influenciam diretamente o desenvolvimento do futebol. A partir dessa compreensão, é fundamental construir uma ideia futebolística coerente com os princípios do jogo e com as particularidades do local em que estamos.
O desafio para um treinador ou profissional do futebol está em adaptar-se às exigências específicas de cada contexto. Isso requer flexibilidade, mas também fidelidade à nossa proposta. A verdadeira dificuldade não é apenas transmitir uma ideia futebolística, mas ajustá-la às circunstâncias ao nosso redor, mantendo sempre a coerência e uma visão de longo prazo.”
AITF: O futebol argentino é reconhecido pela sua paixão e pela produção de grandes treinadores. Que características do futebol argentino consideras mais úteis para te adaptares ao trabalho no estrangeiro?
QA: “O técnico argentino destaca-se pela sua capacidade de adaptação, resiliência, constância e astúcia. Estas qualidades, que levaram ao sucesso em muitos contextos, fazem parte da nossa essência. Se bem que outras culturas também possuem estas virtudes, considero que os argentinos sabem aproveitá-las ao máximo, aplicando-as com um objetivo claro: a glória desportiva.
Esta abordagem conecta-se com o que referi anteriormente: analisar o contexto e adaptar o nosso trabalho ao tipo de jogador com quem lidamos. Afinal, o futebolista é o verdadeiro protagonista no campo, e o nosso trabalho como treinadores deve centrar-se nele.”
AITF: Que conselho darias aos treinadores argentinos que estão a considerar sair do país para treinar em outras ligas sul-americanas ou até fora do continente?
QA: “Muitas vezes, os desafios que enfrentam em terras estrangeiras não são apenas desportivos, mas também culturais e institucionais. Um dos pilares mais importantes para esses jovens é a experiência de outros profissionais que já trilharam esse caminho. É essencial compreender o contexto em que se vai viver e trabalhar: com que tipo de dirigentes, jogadores, colegas e cultura se vai interagir. Esta visão geral do ambiente é fundamental para uma adaptação bem-sucedida.
O jogador, treinador ou preparador físico argentino possui uma capacidade de adaptação, resiliência, perseverança e astúcia que, ao longo dos anos, tem sido fundamental para alcançar inúmeros sucessos no âmbito futebolístico. Embora estas qualidades também possam ser encontradas noutros países, considero que, de forma geral, os argentinos conseguem maximizar estas competências, aplicando-as com um objetivo claro: a glória desportiva.
Esta perspetiva complementa o que já mencionei anteriormente: a importância de analisar o contexto em que nos encontramos e de adaptar o nosso trabalho ao tipo de atleta com quem lidamos. Afinal, o jogador é, acima de tudo, o verdadeiro protagonista dentro de campo, e o nosso trabalho como treinadores e profissionais do desporto deve estar centrado nele.”
AITF: O futebol equatoriano evoluiu muito nos últimos anos. Como descreverias a tua experiência no Equador e os maiores desafios que enfrentaste ao adaptar-te ao seu estilo de jogo e dinâmica profissional?
QA: “Foi uma experiência única. Estar três anos no mesmo clube, vendo-o crescer e contribuindo para esse progresso, é algo raro. O maior desafio foi no início, quando tudo era novo e a dinâmica de trabalho era completamente diferente. Tive de me adaptar rapidamente para estruturar um plano de trabalho que promovesse o desenvolvimento do clube, tanto institucional como desportivamente.
No aspeto futebolístico, o Equador tem um futebol muito físico, com jogadores fortes e velozes. Nos últimos anos, essa potência tem sido complementada por avanços técnicos, táticos e profissionais, essenciais para o desenvolvimento dos jogadores. Apesar dos progressos, acredito que o país ainda tem muito potencial por explorar e pode continuar a produzir gerações de jogadores que brilhem a alto nível durante anos.”
AITF: A AITF foca-se na formação, assessoria legal e criação de oportunidades para treinadores ibero-americanos. Como consideras que estas ferramentas podem ser chave para quem quer trabalhar fora do seu país?
QA: “O papel da AITF é crucial para ajudar os profissionais a contextualizarem os desafios que enfrentarão ao sair do seu país. Além dos aspetos legais e formativos, é fundamental conhecer as características do lugar: como são as pessoas, o que se come, como é o custo de vida e quais são as dinâmicas culturais e sociais. Este conhecimento prévio permite preparar-se melhor e aumentar as probabilidades de sucesso.
Ter acesso a estas informações antes de partir é essencial para uma adaptação mais rápida e eficaz, ajudando a enfrentar o desconhecido com maior segurança e confiança. Esta preparação pode ser determinante para o sucesso num novo ambiente.”
AITF: Que mensagem gostarias de deixar aos membros da AITF e àqueles que consideram juntar-se à organização?
QA: “A ideia de reunir experiências e oferecer colaboração, tanto a quem está a começar como aos que já têm experiência, é extraordinária. A retroalimentação constante de informação que a AITF está a gerar é algo fascinante e essencial num mundo tão dinâmico como o nosso. Este é um espaço onde podemos ‘parar a bola’ e refletir sobre como colaborar e crescer juntos.
Por fim, quero agradecer ao Miguel Ángel Pozanco pela sua visão e por me permitir fazer parte deste projeto que, sem dúvida, está a transformar vidas e a elevar o nível do futebol ibero-americano.”
A AITF trabalha para criar ligações entre treinadores de todo o mundo, oferecendo oportunidades de crescimento e desenvolvimento em mercados internacionais. Se és treinador e desejas melhorar a tua carreira ou partilhar as tuas experiências, convidamos-te a juntar-te à nossa comunidade. Torna-te membro da AITF e faz parte de uma rede global que apoia e potencia o talento dos técnicos de futebol!
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